Karl Lagerfeld masculiniza o inverno da tradicional casa francesa com suas garotas-menino.
Por Marcellus Nishimoto
É notório que mademoiselle Gabrielle Chanel libertou as mulheres ao adaptar o vestuário masculino às necessidades cotidianas do universo feminino. Estávamos no Entre-Guerras, era real a necessidade de mais força de trabalho nas fábricas e a revolução de comportamento da Belle Époque desenhava uma era de emancipação pronta para ser conquistada.
Karl Lagerfeld renova a imagem da casa Chanel ao buscar elementos também no guarda-roupa do homem. E essa influência tem datação clara: num certo período romântico tardio ou dos jovens britânicos de estilo mod do início da década de 1980. Uma época com pano de fundo musical criado por jovens melancólicos, senão existencialistas, da classe operária que incorporavam equipamentos eletrônicos e sintetizadores em suas composições. Bandas como Joy Division, Orchestral Manoeuvres in the Dark, The Smiths, dentre outros, vestiam-se como moços comportados de jeans, calças, camisas e gravatas, ternos mais largos, ombros caídos, cabelos curtos, quase beatniks, em contraponto aos seus pares punks e anarquistas. A onda boyish que cresce na moda internacional deixas as mulheres (digo, garotas) Chanel com um visual menos sofisticado, mas não menos fresh. A senhora de tailler de Lagerfeld dá lugar a jovem urbana e ironicamente rebelde ao se vestir como os garotos. Modelos de cabelos curtos, inspiradas por Emma Watson e Carey Mulligan lembram Twiggy modernas, masculinas e femininas, debochadas e frágeis ao mesmo tempo.
O jeans preto lavado, estonado, amassado, junto ao corpo, o comportamento garoto rebelde em polainas de lã sobre abotinados curtos de croco (mineiros de luxo). A dureza de macacões-smoking em tecido nobre rendado, bordado. Calças de alfaiataria de barras altas, dobradas. Minissaias largas sobre calcas skynning, leggings. Casacos em trapézio, maxi-pelerines, vestidos com silhueta 1920-30 e a feminilidade do kitten stiletto que aparece para quebrar o rigor masculino. Cinzas, pretos, bordeaux, gelo, brilhos discretos, tweed, lã, organza, crepes, rendas.
O costumeiro desfile espetáculo da Chanel fica, aqui, mais introspectivo sobre a passarela cinza margeada por pedras escuras, vulcânicas, floresta negra e com mulheres-meninos desfilando uma coleção intensa, não obstante urbana e cheia de jovialidade.
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